Querida irmã,
antes de mais nada saiba que te amo também,
loucamente, respondendo ao seu post anterior.
E peço desculpas por não comentá-lo diretamente,
mas é que hoje só tenho cabeça para o que se segue...
Não sei se você se lembra dos nossos tempos de infãncia
onde a lei que imperava era a famosa "lei de chico de brito"
ou em outras palavras, "escreveu, não leu, o pau comeu",
onde crianças eram apenas crianças,
e tinham que respeitar os mais velhos,
onde um simples par de olhos arregalados
já funcionava como aviso e era suficiente
para a gente saber o que NÃO fazer.
E obedecíamos, resignadas, por vezes insatisfeitas,
mas felizes na segurança de um amor
que sabia dizer não e que isso era para o bem.
E te digo hoje, e acho que concorda comigo,
que a dita lei não nos tornou seres complexados,
traumatizados ou com qualquer tipo de desajuste social,
muito pelo contrário, pois nos considero
com onomatopéias e tudo,
pessoas muito bem resolvidas,
graças a Deus e a nossos pais.
Digo isso porque observo já há tempos
uma certa tendência a permissividade,
vamos chamar assim, por parte de pais,
educadores, psicólogos e afins.
Desde que me tornei mãe, sempre tive como
uma das maiores preocupações a questão
de saber educar na base do diálogo, sem palmadas,
tendo em vista que estou lidando com outro ser humano
que, como todos, merece respeito, amor e coisetal.
Mas posso dizer também, após cinco anos no cargo,
e sem férias, que de vez em quando a velha e boa lei
se faz necessária. Não que eu ache que a criança
precisa de peia, por assim dizer,
não vamos banalizar a coisa.
Mas acredito firmemente que a maior prova de amor
que posso dar a meu filho é ensiná-lo a respeitar certos limites,
pra que a própria vida não se encarregue da função,
mais tarde, quando ele já estiver adulto,
visto que aí a peia é muito mais dolorosa.
No fim das contas, é de pequenino que se torce o pepino, sim.
Nem que pra isso eu precise deixá-lo sem NENHUM brinquedo
durante uma semana, sem televisão, computador e tudo mais.
E em último caso, se o cidadão AINDA tiver coragem
de rosnar (!) pra mim como um selvagem de cara franzida,
eu não hesitaria em dar-lhe uma boa palmada, ou duas,
mesmo que isso contrarie avós, tios e simpatizantes.
Pois posso afirmar com segurança que a melhor
psicologia infantil é descoberta e aplicada ali,
no grosso dos dias, a gente só aprende vivendo.
Duvido que haja por aí um único cidadão nesse mundo
de meu Deus que tenha conseguido sobreviver
a uma criança de cinco anos, endiabrada,
sem recorrer a qualquer tipo de castigo
ou algum resquício da antiga lei.
É justamente por serem 'cristais' que sabem a que vieram,
têem um entendimento maior das coisas e tiram proveito disso,
não vamos subestimar nossas crianças.
E ao meu ver, isso só aumenta
a responsabilidade materna de orientar
e (tentar) direcionar para o bem todo esse potencial.
Porque uma coisa é certa, acredite:
crianças serão sempre crianças por mais evoluídas que sejam,
e o papel dos pais é sempre o de educar e impor limites,
desde que o mundo é mundo que é assim.
Bem sei que elas tem muito a nos ensinar, e quero aprender.
Mas eu aprendo com meu filho enquanto mostro pra ele
que todos os nossos atos tem consequencias, aqui, ali ou acolá,
e que não é porque ele é pequeno que pode tudo.
Tenho plena consciência das consequencias dos meus atos
como mãe, tudo na vida é escolha.
E eu escolho as críticas sem medo, se a recompensa
pelo meu esforço for um cidadão bem preparado pra vida.
Certeza absoluta que a criança emburrada
e de cara feia de hoje será o adulto
equilibrado de amanhã e com ótimas lembranças
e histórias pra contar, assim como nós.
Te digo tudo isso com a clareza mental,
o coração tranquilo e a confiança cega
de quem age por amor.
E tenho dito.
"...pois ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..."